“Quando eu saí da escola, com uns treze ou quatorze anos, fui para a Fazenda Boa Esperança, na beira da estrada, a seis km de Cássia... Eu tirava leite, desnatava, fazia manteiga. O creme a gente vendia em Cássia a oitocentos réis o litro, depois passou para mil réis. O leite a gente fornecia para o Gonçalves Sales, em Passos, essa firma existe até hoje. Eu comecei a juntar de grão em grão o café que sobrava, socar no pilão e ia vender em Cássia, a oitocentos réis o quilo. Com o dinheiro eu comprava traque, bombinha.”
Esse relato é de um empreendedor muito querido, meu avô, Genú Borges. Mineiro de Cássia e comerciante desde os treze anos como ele mesmo contou. Apaixonou-se por minha avó, Adélia, com quem teve 7 filhos, 25 netos e até hoje, 42 bisnetos. Mesmo com pouco estudo, em sua jornada como empreendedor viveu mais sucessos do que fracassos. Uma jornada que começou lá pelos idos de 1929 cheia de superações e ideias muito criativas e divertidas e que o levou para além das serras mineiras. Uma jornada com a qual muitos de vocês, leitores deste blog e comerciantes, irão se identificar, e, eu espero, se inspirar.
Quem conheceu meu avô já como um comerciante estabelecido, cheio de carisma e envolvido com a comunidade próxima às suas lojas, não imagina a primeira grande dificuldade que ele superou em suas primeiras vendas: “...eu era gago e não conseguia falar direito com as freguesas. Na hora que eu batia na porta da casa e tinha que oferecer manteiga, eu separava as sílabas batendo com o pé no chão para poder sair a conversa, de uma vez só não conseguia falar nada.”
A “técnica” para vencer a gagueira foi só uma de suas tantas saídas criativas e espontâneas para vencer os obstáculos.
Então vamos às “Dicas do Vô Genú”, ou melhor, do “Tinda”, como ele ficou conhecido em sua primeira venda lá nas Minas Gerais:
PROVOQUE O CLIENTE PARA IR EM SUA LOJA
Meu avô estava inaugurando uma nova loja e o movimento não estava lá muito bom. Como conhecia bem as pessoas da cidade e sabia que gostavam muito de “imitar” os vizinhos, ele não teve dúvidas, pediu aos vendedores para entrar e sair da loja com pacotes, como se fossem clientes. Não demorou e os clientes reais começaram a lotar o comércio.
Naquele tempo não tinha internet e os meios mais comuns de publicidade eram as propagandas em rádios e folhetos. Mas o Tinda não perdia uma oportunidade e aproveitava os dias de jogos para estacionar sua camioneta próximo a entrada do estádio, com o nome da loja bem grande, e aproveitava o grande movimento de pessoas para divulgar o nome do seu comércio. Nas proximidades da venda, ele sinalizava em porteiras e cercas de madeira, pintando o nome da loja com uma mistura de cal, leite e clara de ovo (que dava liga e deixava a tinta bem branquinha e destacada).
De alguma forma, essas ações espontâneas e criativas nada mais são do que:
Ter uma boa vitrine, bonita e chamativa;
Aproveitar todas as oportunidades de divulgação, seja boca a boca, redes sociais ou as formas mais tradicionais de publicidade;
Deixar visível ao cliente, de alguma forma, o que seu comércio oferece.
COLABORE PARA O DESENVOLVIMENTO GERAL EM SEU ENTORNO
Outra história bacana de meu avô, era de que, em um de seus primeiros armazéns, na roça, ele resolveu levar um dentista periodicamente para atender aos moradores. Dessa forma, ele se tornou conhecido como alguém com quem os clientes podiam contar. Ele atendia às necessidades dos moradores e trazia movimento para a venda.
Uma das dificuldades que ele enfrentava na época era o acesso dos moradores à venda. A estradinha que ligava a venda à estrada principal era muito precário. Ao invés de reclamar ou procurar os políticos da região, ele juntou alguns ajudantes, pás e enxadas, e abriram, todos juntos, uma estradinha de terra!
Uma forma de incentivar o desenvolvimento local hoje em dia é comprar o máximo de produtos de fornecedores/produtores locais. Quanto mais próximos de seu comércio, melhor. Dessa forma, você faz com que o capital seja gerado e gasto no seu entorno. Falei sobre isso no post “5 Dicas para vender mais em seu bairro”.
PROCURE CONHECER AS NECESSIDADES DE SEUS CLIENTES
Na mesma venda em Itambé, meu avô e minha avó trabalhavam juntos para produzir o máximo de produtos que poderiam ser consumidos pelos moradores da região. Perguntavam o que estavam precisando, do que sentiam falta e faziam de tudo para produzir os pedidos ou trazer de outra cidade.
Hoje, essa prática aparece na escolha correta de produtos e no modo de exibi-lo. Também falamos sobre isso aqui no blog no texto, “A importância do mix de produtos”. Em outro texto, abordei como conhecer melhor seu cliente, “Como descobrir quem é seu cliente potencial”.
DICA “BÔNUS”
Uma das ações mais criativas de meu avô era a “degustação”. Nessa época, ele vendia máquinas de costura e rádios portáteis. Um luxo para a época e a região. Ele enchia sua camioneta desses produtos e ia para as roças mais distantes. Batia numa casa e falava que tinha uma entrega de máquina de costura para Fulana que ia casar. Ele não conhecia nenhuma fulana que casaria, mas na hora a pessoa que havia atendido a porta falava, “Não, quem vai casar é a filha da Dona Maria, daquela casa ali”. E pronto, ele ia na casa da Dona Maria, se apresentava (já sem gaguejar) e oferecia a máquina de costura para a filha experimentar. Se gostasse, depois de uma semana ela poderia comprar à vista, à prazo ou à prestações.
Com os rádios ele chegava e já ia instalando na casa da pessoa. Insistia que era um presente por uma semana. Que a pessoa ouvisse e, se gostasse, comprava da mesma forma que fazia com as máquinas de costura. Caso contrário, não haveria custo algum, ele só levaria o rádio embora.
Essa era uma das ações com mais sucesso. Afinal, depois de ter algo tão útil e bacana por uma semana, quem iria querer se desfazer do produto?
Eu falei sobre uma experiência de degustação de serviços esses dias em nossa fan page. Eu ganhei um corte de cabelo e adorei! Meu próximo corte, com certeza, farei com a Fernanda, cabeleireira que me ofereceu essa degustação. Oferecer uma experiência bacana ou um produto muito bom para seu cliente experimentar, traz muito resultado. Se você confia na qualidade de seu serviço ou produto, não tem porque não tentar!
Agora eu vou parando essa prosa por aqui, porque sobre meu avô, a família escreveu até um livro em seu centenário para contar as tantas histórias de sua vida.
O vô Genú faleceu em 1997, mas deixou um legado difícil de medir, para seu filhos, netos e bisnetos. Espero que agora, suas histórias inspirem você, pequeno comerciante, a acreditar em suas próprias ideias e seguir acreditando e investindo em seus objetivos.
Na foto que abre este post, estão meu avô (na frente, com chapéu) e seus sócios-primos, em uma de suas primeiras lojas, a Casa das Sedas).
Oi! Eu sou a Carol, do Nex. Estou aqui para ajudar aos pequenos comerciantes como você, a desenvolver todo potencial de seu negócio.